Seja minha vida o padrão naquilo que eu falar e no procedimento, o exemplo à todos levar.

terça-feira, 26 de abril de 2016

JUIZ CONDENA MÉDICOS POR TRÁFICO DE ÓRGÃOS EM MINAS GERAIS


07/02/2014 20h24 - Atualizado em 09/02/2014 17h39

'Eles sabiam que a criança estava viva', diz juiz sobre tráfico de órgãos

Dois dos três acusados de remover órgãos do menino Pavesi estão presos.
Exame de arteriografia mostra atividade cerebral na vítima.

Jéssica Balbino  -
Do G1 Sul de Minas

"Eles sabiam que a criança estava viva", declarou o juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro, na tarde desta sexta-feira (7), sobre as prisões dos médicos envolvidos no caso que ficou conhecido como a "Máfia dos Órgãos". O juiz afirmou estar certo do envolvimento dos profissionais com a retirada dos órgãos do menino Paulo Pavesi, morto aos 10 anos no ano 2000 em Poços de Caldas (MG). Nesta quinta-feira (6), dois médicos foram detidos após o juiz anunciar a sentença condenando os profissionais pelo caso. Um terceiro médico está foragido.
“Eles retiraram os órgãos do garoto enquanto ele ainda estava vivo", enfatizou o juiz. "A tese apresentada pela defesa não me convenceu. Eles tinham plena consciência da ilicitude do ato. O único exame de arteriografia feito no Hospital Pedro Sanches e apresentado por eles à Justiça mostra, claramente, que havia circulação de sangue no cérebro do garoto o que comprova que ele não tinha tido morte encefálica."
O pai do menino Paulo Pavesi, que vive asilado na Europa, disse que já esperava pela condenação dos médicos.
"Eles sabiam que o Paulinho estava vivo quando retiraram os órgãos. Eles tinham todo o conhecimento da ilegalidade que estava sendo praticada e continuaram fazendo o que fizeram. Eu honestamente não estou sendo informado sobre nada, não sei do que está acontecendo e muito menos qual será o próximo passo. Eu hoje tenho certa maturidade para saber que é mais uma etapa porque tem muito ainda pela frente. Isso pode levar mais uns três anos. Honestamente, eu acho que não é a conclusão", disse Paulo Airton Pavesi pela internet.
Arteriografia mostra atividade cereral no garoto Paulinho Pavesi (Foto: Reprodução Documento)Arteriografia mostra atividade cereral no garoto Paulinho Pavesi (Foto: Reprodução Documento)
As prisões
Os médicos Cláudio Rogério Carneiro Fernandes e Celso Roberto Frasson Scaffi estão presos no Presídio de Poços de Caldas em uma cela especial, isolada dos demais detentos. Eles foram detidos pela Polícia Militar na noite de quinta-feira (6), nas respectivas casas. O médico Sérgio Poli Gaspar não foi encontrado e é considerado foragido.

Por telefone, o advogado dos médicos, José Arthur Di Spirito Kalil, disse que não teve acesso a nenhum documento referente às prisões e não soube dizer o motivo dos mandados. Ele informou também que vai recorrer da decisão e fazer os pedidos de habeas corpus.
 

O urologista Celso Scafi foi preso nesta quinta-feira (6).  (Foto: Marcelo Rodrigues/ EPTV)
O urologista Celso Scafi foi preso nesta quinta-feira 
(Foto: Marcelo Rodrigues/ EPTV)
As condenações
Na sentença de mais de 150 páginas, o juiz condenou Cláudio Fernandes a 17 anos de prisão. O texto informa que durante o atendimento ao menino Paulinho, o médico removeu os órgãos da vítima com consciência de que ela estava viva e não examinou o protocolo de morte encefálica. A sentença informa ainda que o médico confessou à Justiça ter grande renda com os transplantes e que sabia das atividades ilícitas da Ong MG Sul Transplantes, que atuava na cidade na época.

Já o urologista Celso Scaffi foi condenado a 18 anos de prisão. De acordo com o juiz, o médico removeu órgãos em desacordo com a disposição legal, levando a vítima à morte, além de escrever que a criança não estava em morte encefálica, já que não houve o exame de arteriografia na Santa Casa. “Ele tentou ainda fraudar provas e inseriu dados falsos no prontuário médico”, declarou.

Médico Cláudio Rogério Carneiro Fernandes foi detido pela PM (Foto: Marcelo Rodrigues/ EPTV)
Médico Cláudio Rogério Carneiro Fernandes foi
detido pela PM (Foto: Marcelo Rodrigues/ EPTV)
O médico Sérgio Poli Gaspar, condenado a 14 anos de prisão, é o único que ainda não foi encontrado e já é considerado foragido, pois tinha até esta sexta-feira para apresentar-se à Justiça. Na sentença, o juiz afirma que o médico ajudou a remover as córneas e rins da criança e que tinha plena condição de entender o caráter ilícito da conduta. “Ele não procurou saber se o protocolo de morte encefálica havia sido feito corretamente”, completou.

Além da condenação, o juiz decretou que os três médicos percam os cargos públicos e que sejam afastados do atendimento pelo SUS.

Juiz pede que deputado estadual e Santa Casa sejam investigados
Ao final da sentença, o juiz pediu à presidência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) para que providencie junto à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) autorização para investigação do envolvimento do deputado Carlos Mosconi com o caso. Na época dos acontecimentos, Mosconi era presidente do MG Sul Transplantes. “Eu tenho indícios fortes para investigá-lo como o idealizador da Máfia dos Órgãos, já que ele foi o idealizador da MG Sul Transplantes”, comentou.

O deputado Carlos Mosconi emitiu uma nota manuscrita com a opinião sobre o caso, onde afirmou que não tem nenhum envolvimento nos procedimentos de transplantes ora julgados e que quando tais fatos ocorreram, não se encontrava no exercício da medicina há tempos.

“As diversas auditorias feitas pelo Ministério da Saúde, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal não citam meu nome em nenhum momento. Minha ligação com o caso se deve ao fato da defesa que faço dos médicos por acreditar em sua inocência e por testemunhar a seu favor. Afirmo que estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários”, disse. Em uma rede social, Mosconi também reafirmou a crença na inocência dos médicos.

Ainda na sentença, o juiz pede que a Receita Federal e Estadual sejam notificadas para que providenciem apuração sobre recolhimentos tributários no âmbito da Irmandade da Santa Casa de Poços, bem como suspeitas de lavagem de dinheiro.

Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)Paulinho Pavesi morreu aos 10 anos após cair, passar por cirurgia e ter os órgãos removidos (Foto: Paulo Pavesi/ Arquivo Pessoal)
Entenda o Caso Pavesi
As investigações do ‘Caso Pavesi’ já duram quase 14 anos. Em 2002, quatro médicos, José Luis Gomes da Silva; José Luis Bonfitto; Marco Alexandre Pacheco da Fonseca e Álvaro Ianhez; foram denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado. Na denúncia consta que cada um cometeu atos encadeados que causaram a morte do menino. Entre eles, a admissão em hospital inadequado, a demora no atendimento neurocirúrgico, a realização de uma cirurgia feita por um profissional sem habilitação legal que resultou em erro médico e a inexistência de um tratamento efetivo e eficaz. A denúncia aponta também fraude no exame que determinou a morte encefálica do menino.

A investigação deu origem a outros sete inquéritos e a Santa Casa de Misericórdia de Poços de Caldas perdeu o credenciamento para realizar os transplantes em 2002. O caso foi tema de discussões também no Congresso Nacional em 2004, durante a CPI que investigou o tráfico de órgãos. Os médicos foram acusados de homicídio doloso qualificado pelo Ministério Público Federal.
Em janeiro deste ano, o pai do menino, Paulo Airton Pavesi, que vive na Europa, publicou o livro “Tráfico de Órgãos no Brasil – O que a máfia não quer que você saiba”. Com diferentes passagens que relatam a despedida do garoto, a exumação do corpo e a luta para provar que o menino foi vítima da chama ‘Máfia dos Órgãos’, Pavesi enfatiza que a história toda foi censurada e por isso, optou por lançar o livro de maneira independente e distribuir livremente pela internet.

Associação dos Médicos defende profissionais
Durante a tarde desta sexta-feira (7), o presidente da Associação Médica de Poços de Caldas, Paulo Negrão e a diretora clínica da Santa Casa, Francisca Barreiro, realizaram uma coletiva à imprensa, para expressar o pesar sobre a prisão dos profissionais.

“Lamentamos muito o caso e as prisões, já que são médicos que atenderam pelo SUS a vida toda e prestaram um grande serviço à saúde da cidade. Prestamos aqui o nosso acolhimento aos colegas e aos familiares. São os profissionais de caráter inquestionável”, disse a diretora clínica da Santa Casa."   (SERÁ?)
FONTE:
http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2014/02/eles-sabiam-que-crianca-estava-viva-diz-juiz-sobre-condenacoes.html